História

A Mina de São Domingos (aldeia portuguesa e alentejana, situada no distrito de Beja, concelho de Mértola e freguesia de Corte do Pinto) faz parte da província metalogénica de classe mundial conhecida como Faixa Piritosa Ibérica (FPI), uma região com 30 a 60 km de largura e 240 km de comprimento que se estende desde o rio Sado e Setúbal (Portugal) até ao rio Guadalquivir e Sevilha (Espanha) e se constitui como uma fonte decisiva de metais básicos (Cu, Zn, Pb, Sn, Ag, Au, Fe, Co, Cd, etc.) e de outros elementos como o enxofre (S). O depósito pirítico de São Domingos foi explorado em diversos períodos históricos, nomeadamente: durante vários séculos do primeiro milénio a.C. (período Oriental), durante o período que mediou entre o ano 14 a.C. e o ano de 395 d.C. (período romano), durante o período islâmico e durante o período delimitado pelos anos de 1854 e 1966 (período moderno) (Guita,2011:117).

É o período de exploração moderna que dita a importância e o legado histórico da Mina de S. Domingos. Numa atividade de extração intensiva que decorreu ao longo de mais de um século (1854-1966), a empresa britânica Mason & Barry extraiu dos jazigos da Mina de S. Domingos mais de 20 milhões de toneladas de minério. Durante o período de exploração, a atividade mineira tornou-se o grande catalisador do desenvolvimento local. A Mina foi mesmo a maior exploração mineira portuguesa até à década de 1930, com uma força laboral continuamente superior a um milhar de trabalhadores até perto do seu encerramento. Na Mina de São Domingos construiu-se, por exemplo, uma das primeiras linhas férreas do país, para fazer a ligação entre a Mina e o antigo porto fluvial no Pomarão, que permitia o escoamento do minério através do rio Guadiana. Recebeu também a primeira central elétrica do Alentejo. Para além disso, sustentada pela atividade mineira, existia uma sociedade local dinâmica e com acesso a vários serviços, como um teatro ou um hospital (SOCIUS – ISEG,2010).

A história moderna da mina começa na segunda metade do século XIX, em pleno auge da revolução industrial britânica, altura em que a procura de metais estava em crescendo na Europa e na América do Norte. O carácter excecional de alguns dos jazigos minerais, nomeadamente das minas de S. Domingos, Tharsis e Rio Tinto atraíram o investimento estrangeiro e condicionaram o desenvolvimento subsequente destes locais sob a égide das empresas britânicas que os exploraram, por um período de cerca de um século (Silva,2009: 503-504).

A ‘descoberta’ de três das mais importantes minas da parte portuguesa da Faixa Piritosa Ibérica – nomeadamente S. Domingos, Aljustrel e Caveira – foi reclamada em Junho e Julho de 1854 por Nicolas Biava e Juan (Jean?) Malbouisson, capatazes enviados por Ernest Deligny (empresário de minas francês), na altura já ocupado a preparar os campos de lavra nas minas de Tharsis e La Zarza (Deligny, 1863) (Pinheiro da Silva,2010: 503-504).

Em Março de 1855, Biava e Malbouisson transferiram para Deligny os direitos de propriedade das minas registadas em Portugal, através de escritura realizada em Huelva. Em Novembro do mesmo ano, Deligny, o Duque Decazes e Eugene Duclerc, acionistas da Compagnie des Mines de Cuivre d’ Huelva, detentora de Tharsis, registaram em Sevilha uma empresa, com o nome de La Sabina, com o objetivo de explorar as minas portuguesas e particularmente S. Domingos. Assim que obtém a concessão desta mina por parte do estado português, em Maio de 1858, a La Sabina a exploração da mina a uma empresa inglesa, entretanto constituída, denominada Mason & Barry (Pinheiro da Silva,2010: 504).

A partir do momento em que a mina de S. Domingos foi arrendada à empresa Mason & Barry o empreendimento mineiro moderno começou a tomar forma. Os elementos necessários à mineração em grande escala foram implantados no terreno e, em poucos anos, aquilo que hoje reconhecemos como os vestígios mais antigos do empreendimento moderno foram instalados: quartéis para os mineiros (as habitações, construídas pela empresa e arrendadas aos trabalhadores), oficinas e armazéns, equipamentos de tração, de esgoto e de extração, vários equipamentos de carácter social (hospital, igreja católica, cemitério protestante, teatro, clube recreativo, mercado, campo de jogos), o porto fluvial do Pomarão, indispensável ao escoamento do minério, a linha do caminho-de-ferro ligando a mina ao Pomarão, além dos vários polos urbanos criados ao longo da linha férrea e dos pontos-chave do empreendimento: a Moitinha, local da trituração do minério, a Achada do Gamo, sítio privilegiado para as operações metalúrgicas, o Telheiro, estação ferroviária, a estação dos Salgueiros, local de abastecimento e manutenção de equipamento ferroviário circulante e, claro, a estação final do trajeto no Pomarão (Guita,2011:122-123).

O empreendimento mineiro moderno interveio directamente sobre um território com a extensão máxima superior a 20 km lineares de Norte a Sul (Cerro do Ouro ao Pomarão), com uma superfície superior a 6.000 hectares, alterou radicalmente 296 destes hectares, mobilizou mais de 20 milhões de toneladas de materiais, produziu cerca 14,7 milhões de toneladas de resíduos acumulados em escombreiras de até 14 metros de altura com uma dezena de materiais diferentes (pirite, gossan, escórias, cinzas, óxidos de ferro, rocha estéril, lamas, entulhos, etc.), cinco núcleos urbanos (de Sul para Norte, Pomarão, Telheiro, Achada do Gamo, Moitinha e Mina de São Domingos), algumas centenas de hectares ocupados com matas de exóticas (Eucaliptus spp. e Pinus spp.), outras tantas ocupadas com reservatórios de água doce e água ácida, tantas outras esterilizadas pelo processamento metalúrgico (Guita,2011:123).

Indiretamente, a influência do empreendimento mineiro moderno fez-se sentir no Algarve, na margem esquerda do Guadiana e em todo o Baixo Guadiana devido a ser este a via de comunicação privilegiada. 1966 foi o último ano em que foi extraído minério da mina de S. Domingos. Em 1968 a empresa Mason & Barry faliu com dívidas a trabalhadores e segurança social. A empresa La Sabina retomou a concessão mineira e reconheceu como seus os bens imóveis advindos da exploração da mina de S. Domingos, acionando o clausulado do contrato de arrendamento que as duas empresas mantiveram desde o século XIX. Em 1984 a concessão mineira de S. Domingos viu findar a validade (Guita,2011:123).

A ausência de uma reabilitação adequada após o encerramento da exploração, bem como o abandono e vandalização subsequente do património remanescente ditaram a decadência progressiva do território, consumada no êxodo populacional, na ruína e no enorme passivo ambiental de toda a antiga área mineira.

A estratégia de desenvolvimento está, neste momento, orientada para a busca de resoluções para os problemas ambientais e para a salvaguarda e valorização/valoração do património mineiro. Neste sentido, a 3 de junho de 2013 o conjunto mineiro da Mina de S. Domingos foi consagrado pela lei portuguesa “Conjunto de Interesse Público”.


Fontes Bibliográficas


PDFs
Cronologia Mina de S. Domingos
Base de Bibliografia sobre a Mina de S. Domingos